sábado, 4 de maio de 2013

ÍCONE FASHION - RUY ANTUNES PEREIRA - PUBLICAÇÃO DO JORNAL DE HOJE POR ERIKA NESI.

ÍCONE FASHION – RUY ANTUNES PEREIRA 

 O homenageado hoje é Ruy Antunes Pereira ícone em honestidade, em cultura do estado e da economia açucareira do vale do Ceará-Mirim. 
 Texto biográfico: Ruy Antunes Pereira nasceu em Ceará-Mirim, no no Solar Antunes (1888), construído pelo avô materno - Cel. José Antunes de Oliveira. Era filho da escritora Maria Madalena Antunes Pereira e do industrial da cana-de-açúcar: Olimpio Varella Pereira. Fez seus estudos preliminares no grupo escolar “Barão do Ceará-Mirim”, tendo recebido aulas dos escritores Abner de Brito e da poetisa Adelle de Oliveira. Era casado com Odete Ribeiro Pereira com quem teve 5 filhos: Olavo Ruy, Adelmo e Maria (falecidos), Denise Pereira Gaspar e Ruy Pereira Júnior. Sempre viveu no vale verde onde começou a trabalhar com o pai, aos 13 anos de idade. Seus dias de infância e juventude foram marcados pelos sortilégios daquele vale edênico, onde ergueu o seu templo de inspirações: “Este vale existe? Estarei sonhando? E o verde, é uma cor ou um sentimento?”, no dizer de suas palavras em carta à “sobrinha-dileta”, Lúcia Helena Pereira. Como sua mãe, Ruy Pereira descobriu a fórmula mágica para escrever cartas memoráveis, às quais, sua filha Denise e eu, as transportamos para o livro intitulado: “Mucuripe - o Mundo Encantado de Ruy Antunes Pereira”, lançado em grande estilo, no dia 07-11-95 (data natalícia do filho Ruysinho). Um homem telúrico, apaixonado pelo vale onde nasceu. Escrevia diariamente e elegeu os seus correspondentes, aos quais, me incluiu, cartas de beleza imensurável, um deslumbramento às emoções! Nelas, toda a riqueza do seu mundo interior. O livro “Mucuripe”, reune a um só tempo, regionalismo, sociologia, história e toda a sutileza de quem viveu em engenho na teluridade inerente ao encantamento do escritor, diante daquele estendal verde, que soprou-lhe aos ouvidos, as canções de outros autores brasileiros e estrangeiros. Ruy Pereira era irmão de Abel, Vicente, Antonieta e Darquinha. Foi o último a morrer, aos 92 anos, no dia 22-04-95. No dia seguinte, um cortejo de familiares e amigos, fez o percurso ao vale verde, no qual, foram depositadas as suas cinzas ao pé da palmeira que ele plantou, no velho Mucuripe, e, concomitantemente, no engenho o grande bueiro deixou soar o pranto do seu apito, enquanto na Matriz do vale, os sinos dobravam. Eis um pouco da essência do homem, cujas palavras escreveu no verso da foto que ilustra essa homenagem.” Esse retrato é a cópia fiel do que fisicamente eu representava naquela época(1940). O tempo velozmente tudo transformando, inclusive moços em velhos! Os horizontes cada vez mais se delimitando. E a vida, tão boa, ficando para trás”.(Escrito em Ceará Mirim em 11/11/61.(Lúcia Helena Pereira – sobrinha, filha do seu irmão Abel Antunes Pereira). _______________________________ 

 Somente as palavras sábias da minha avó Madalena Antunes Pereira, para definir o que sinto pelo meu pai! “Como eu o amava!!! E ao Deus que mo deu, como pagar a oferta”? Procurarei descrevê-lo através de passagens de nossas vidas, pinceladas por alguns trechos de suas belas cartas. Era um homem de hábitos simples, um autodidata, de grande inteligência, bom gosto literário, sentimento poético, amante da música. Executava com maestria o seu saxofone, que muitas vezes o usava para alegrar as festinhas de seus funcionários. Com visão ampla e evoluída para sua época, tinha como sonho ver seus filhos formados, “a medalha que o tempo não destrói, como os haveres materiais.” Atender aos seus anseios, foi o maior motivo para ter me formado em Direito, o maior presente que poderia ofertar-lhe e que ele dizia ser a sua maior glória: “haver me preparado e eu ter obedecido, para enfrentar, como um soldado sem armas, todas as eventualidades da vida”. Mas, assim como ele, minha mãe também tinha o sonho que eu fosse estudar no Rio de Janeiro, em um dos melhores colégios, da então capital federal, e aí concluir os cursos ginasial e clássico. Preparou-me então para o internato do colégio “Sacré-Coeur” de Marie”... Coube entretanto a papai a dura tarefa de levar-me para aquele infortúnio. Chegando comigo ao Rio, com sua sensibilidade, carinho e amor por mim, decidiu: “não irei deixar a minha Uruquinha, magrinha, que pouco se alimenta, por ter aversão à cebolas, em um colégio interna. Ela ficará externa, mesmo com apenas 13 anos, sob a guarda da bondosa e querida preta Simplícia, para ter uma comidinha caseira e sem cebolas...” Isso, se por um lado foi ruim, pois até hoje tenho pavor à cebola e também ter me sentido muito só, sem a companhia de meus pais e irmão, por outro lado, aprendi cedo a administrar a casa, dentro de um orçamento apertado que ele enviava para custear as despesas. Jamais esquecerei esse pequeno, grande gesto de amor! Voltando à infância, quando ainda morávamos no Mucuripe, meu pai completou 45 anos. Eu queria dar-lhe um presente, mas lá não tinha onde comprar... para realizar aquela minha vontade, procurei entre os brinquedos uma caixinha e nela coloquei uma nota de cinco mil réis, que havia recebido de mamãe, e o presenteei naquela data tão importante para nós. Relembro ainda sua emoção, os seus lindos olhos azuis marejados em lágrimas, recebendo aquela singela, porém significativa lembrança. Colocou-a como um troféu, em um quadro, no seu pequenino escritório e, quando eu completei 45 anos ele foi à Jacumã, pela última vez, entregar-me aquele, para ele, precioso presente, que guardo até hoje, como relíquia e lembrança daqueles dias “idos e vividos” da minha infância e da saudade que se encontra no meu coração. Já na minha adolescência, presenteou-me em meus 15 anos, com um Chevrolet Bel-air azul e bege. Mas, a sua maior preocupação foi colocar naquele valioso presente uma placa de números 888, porque a moça mais importante daquela época – Janete Mesquita – possuía um carro cuja placa era 777. Tudo isso vem justificar o que ele dizia: “ minha Uruquinha, uma das escassas vaidades da minha descolorida vida é você.” E mais: “A vida de um pai não tem sentido, se não alimentada pelo reflexo da felicidade de seus filhos”. Jamais fui repreendida ou castigada por ele, que apesar de procurar realizar todos os meus sonhos e me fazer feliz, sempre me impôs limites, regras e responsabilidades. Tudo o que sou e o que aprendi, devo a ele e ao desvelo e dedicação extrema, aliados à elegância de gestos e atitudes, da minha mãe, Odette, que sempre se sacrificou para que eu e Ruysinho usufruíssemos o melhor. Sobre a minha mãe, a quem ele chamava carinhosamente, Baronesa, dizia: “é a mulher que mais fundo penetra o poluído poço do meu coração.” “Diante da grandeza de suas ações e do seu amor por nós, não passo de um simples Cabugi, comparado ao majestoso Evereste!” Sobre Arnaldinho, Ruysito e Sessé ele escreveu acertadamente: “seus filhos (meus queridos netos) vão se afirmando no mesmo diapasão, procurando sob a égide do saber, galgar montanhas. Executar por métrica e não de ouvido, a partitura da vida que lhes tocar viver. Seus três filhos, são dignos de serem colocados na mais rica das molduras.” Sobre Arnaldo, ele considerava “o maior dos Gaspar, um homem cifrão, culto, inteligente, acima do nível normal da maioria, tão extraordinário que tudo com a sua cooperação se resolve..., não é um genro, é um filho!” “E não se tenha uma filha completa que até o homem certo escolheu para casar.” Ao Ceará-mirim, pelo amor telúrico de filho de um verde canavial de sonhos e recordações, quis retribuir tudo o que dele recebeu. Assim, fez do seu querido filho, Ruysinho, a quem chamava de “Anjo”, prefeito daquela terra adorada, o que foi exercido com esmero, dedicação e muitas realizações, usando até os caminhões e tratores do engenho, à serviço da cidade à qual administrava, abrindo mão inclusive do seu próprio salário como prefeito, o que nosso pai dizia: “o calor de sua atuação política faz da minha velhice, simbolicamente noiva do sol” “Como pai e amigo, desejo que se eleve mais que eu na vida” “É humano todo pai almejar a criação maior que o criador!” “Mas, se também tenho a glória de vê-lo já como Deputado Estadual e 1° secretário da Assembléia Legislativa, você possui a maior condecoração de bom filho, bom pai e bom irmão”. “Parabenizo-o! seria o óbvio desejar-lhe felicidades, isso simplesmente porque você é a minha vida”. Atitudes como essas, foram alicerçadas e recebidas do nosso pai, que também a Ruysinho delegou a mais nobre das missões: fazer doação ao município, do sobrado onde nasceu e ali viveu ao lado dos seus entes mais queridos - seus pais e irmãos - para que ali se tornasse a mais bela sede municipal de todo o Rio Grande do Norte - o Solar Antunes. Além do amor que dedicou à sua família, e à sua terra, deixou-nos outro grande ensinamento: “que fosse sempre cumprida a palavra dada” Porém, como homem, completava: “exceção essa àquela da fidelidade conjugal. Esta, uma miragem, para todos aqueles que se consorciam, tão fácil de prometer, mas com raras exceções tão difícil de ser cumprida pelos homens. Repito como no evangelho: Quem for isento de culpa atire a primeira pedra”. Esse é o retrato de Ruy Antunes Pereira, autêntico, sincero, solidário, amigo, que não plantou apenas uma palmeira, onde desejou fossem colocadas as suas cinzas, mas que com os pés fincados no chão, no alagadiço, plantou canaviais, para neles deixar implantada a doçura de sua vida de trabalho, de justiça, de honestidade, e de amor. A ele, que em sua humildade se considerava pobre de letras, podemos dedicar e confirmar as célebres palavras do filósofo Aristóteles: Papai, “somente os GRANDES têm o direito de aparecer pequenos.” (Denise Pereira Gaspar  filha). 
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 Ruy Pereira Júnior - filho. Coube a mim, filho homem e mais velho, substituir o insubstituível! Substituir aquele que foi tudo em minha vida! Esses reencontros com o passado levam-me as lágrimas, ao expressar a minha infinita saudade! Mas, não posso falar em papai, sem deixar de associar a ele o nome de minha mãe - Odette Dantas Ribeiro, que ele descrevia como "uma mulher verdadeira e desinteressada, que sempre me amou, pela força desse amor eterno, desde o tempo em que eu era pobre e praticamente analfabeto e com o peso dos meus defeitos". Foi ela que quando noiva, conseguiu arrendar uma terra para plantio de cana - "doce vitória que consegui por intermédio da minha noiva Odette e da cunhada Maria da Cruz Ribeiro". Com muito trabalho e com o obtido financeiramente, comprou o seu primeiro engenho o Mucuripe, em 28/12/35. Partindo para novas conquistas, em 12/12/41 adquiriu por compra e não por herança, o engenho Oiteiro que pertencia aos seus pais e irmãos. Mas sempre com os olhos voltados para o futuro e muita vontade de vencer, estendeu seus negócios, com a aquisição dos Engenhos Cumbe em 01/03/45 e Alagoas, em 03/03/47, todos interligados, formando o complexo Mucuripe que fabricava açúcar mascavo, rapadura e até aguardente. Além de imóveis que já possuía em Natal, comprou em 1964 o engenho Santa Rita, também em Ceará- Mirim. Era um homem discreto que nunca quis se mostrar bem-sucedido na vida, sendo uma de suas maiores características, além da modéstia, a afabilidade com todos os que lhe procuravam, com carinho especial por seus colaboradores. Para os seus funcionários, construiu 30 casas de tijolo e telha, poço para água encanada e gerador de energia elétrica que funcionava até as 22h pois não existia COSERN cada uma com área de plantio para lavoura de subsistência,onde eles poderiam morar com mais conforto e dignidade . Avô amoroso, de suas netas Ruyma, Rylma e Rylza, pela sua idade avançada e saúde debilitada não chegou a desfrutar a alegria dos então pequenos Ruy Neto e Renata. Se em outras dimensões, no alto de sua palmeira, ele puder vislumbrar as alegrias terrenas, com certeza estará feliz em poder ver o seu neto que leva o seu nome, "galgar montanhas". Através do meu filho, seu neto, ofereço meu pai, em sua sublime memória , o que você mais desejava " um Ruy Antunes Pereira, continuador dos seus dias"para que possa honrar o seu GRANDE nome.
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 Arnaldo Neto Gaspar - genro. Ruy Antunes Pereira, meu sogro, a quem eu chamava "Pereirinha" foi um homem notável: inteligente, culto, trabalhador, poeta, amigo dos amigos, sentimental e um "escritor nato", como dizia seu primo Nilo Pereira. Conheci-o através de sua filha, Denise, minha querida esposa, há 52 anos. Logo no inicio do nosso namoro, quando Denise lhe comunicou que queria namorar comigo, ele disse: - "não quero ver esse ‘cara’ na minha porta, você pode namorar de segunda a sexta, que estarei no engenho, mas com Detinha olhando”. Eu conquistei logo a "Baronesa" ( Detinha) e em menos de 90 dias o "sogrão" já me dava o carro para dirigir e para ir com ele à oficina. Daí, foi um pulo só, para ficarmos amigos. Ele gostava muito porque eu era aluno do CPOR e estudante de Engenharia. Tive por ele muito respeito e admiração. Não poderei deixar de contar dois fatos marcantes que aconteceram: me formei em Engenharia no Rio de Janeiro. Vim para Natal e fundei a minha empresa Construtora A. Gaspar em Janeiro de 1962, estava casado com a sua Uruquinha desde Janeiro de 1961. Não tinha nada, era um liso. Fui à "Casa bancária" de Dr. Aldo Fernandes, e pedi 200.000 ( acho que eram contos de reis) emprestados por 120 dias. Dr. Aldo olhou para mim e disse: "menino para que você quer tanto dinheiro?" Eu disse que era para construir uma casa para vender. Ele perguntou: "E quem é o avalista?" Eu respondi: Ruy Pereira, ao que ele retrucou: "Ruy Pereira não avaliza para ninguém!" Eu disse, me dê a promissória. Fui até o engenho, Sr. Ruy estava trabalhando lá dentro e quando me viu, ficou surpreso, pois não era costume eu ir ao engenho, e logo perguntou o que estava fazendo ali. - Vim lhe pedir um aval. "Um aval?" Sim.Ele pegou a promissória e avalizou em BRANCO. Sai correndo para Dr. Aldo que surpreso disse: "Ruy assinou em branco? Então você tem crédito” e emprestou o dinheiro. Outro fato que gosto de contar: Pereirinha muito humilde entro numa loja de carros em Copacabana, pelos anos de 1954. Veio um vendedor com quem comentou "carrinho bonito". Era um Lincol Capri, conversível vermelho, último modelo.Pereirinha perguntou:" quanto custa o carrinho?"o vendedor olhou para ele sem dizer o preço e foi embora. Sr. Ruy insistiu e o vendedor disse: "não é carro para o senhor". Pereirinha ficou brabo. Pegou o braço do vendedor e perguntou: “quero saber o preço" e o vendedor já com medo respondeu: 600.000. Sr Ruy então acrescentou: "o senhor quer em dinheiro vivo, ou em cheque "visado"? A essas alturas, vieram mais dois vendedores, o dono da loja, e ele comprou o carro. Este era meu sogro! Poderia contar diversas histórias, cada uma mostrando sua personalidade. Para não me alongar mais, vou contar a última. Certo dia, ele me chamou: "meu genro, você vai ter a última despesa com seu velho sogro. Eu quero que quando eu morrer você leve meu corpo para São Paulo para ser cremado. Estou pedindo a você porque Ruysinho, o Anjo, não terá coragem”. E eu fui com Denise fazer a sua última vontade. Foi feita a cremação em S. Paulo, com ajuda do amigo Carlos Cerino. E viajamos de volta, para Ceará-Mirim, Engenho Mucuripe, onde na palmeira Imperial, por ele plantada, foram depositadas as suas cinzas, naquele lugar que ele amou! Poderia me estender mais, porém, um homem como "Pereirinha" não morre, o seu exemplo fica gravado na mente de todos os que lhe amaram. __________________________________

 Arnaldo Gaspar Jr.   Ao recordar Vovô Ruy, lembro-me de um homem sério, simples e muito inteligente. Um homem que via à frente do seu tempo. Tanto nos negócios, enquanto esteve ativo empresarialmente, quanto com as coisas que o cercava. Alimentação saudável e frugal e caminhar por uma hora toda manhã, eram hábitos já nos anos 60. Determinado e disciplinado ao extremo, se chovia, caminhava dentro do nosso apartamento no Leblon. Quando adolescente ao mencionar que era seu neto, ouvia invariavelmente: Ruy Pereira, homem de palavra. Homem de bem.
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 Tio afim e primo pelo meu lado materno ( família Varela Pereira) homem singular e excepcional que com trabalho árduo, honradez, dedicação, amor filial e paternal, visão empresarial e comportamento financeiro austero, expandiu a atividades canavieiras e investiu também em vários imóveis urbanos. Na metade do século passado, a cidade maravilhosa era o sonho de brasileiros de todos os quadrantes e a princesinha do mar o desejo maior. Alí no coração do bairro de Copacabana, plantou mais uma bandeira de seu mundo encantado, justamente no edifício Canadá - isto mesmo: (cana-dá) Quando lá passava as férias, intervalo entre a trabalheira das safras, prosseguia imerso no universo canavieiro. Foi o senhor de engenho que mais safras tirou no nosso município. Assim, recordá-lo e homenageá-lo é momento próprio para ressaltar suas qualidades: dedicação ao trabalho, amor à família, bondade, generosidade, fraternidade, simplicidade, discrição e pendores literários, escritor nato como enfatizou o notável Nilo Pereira. Tenho por ele gratidão apostolar e afeto especial, frutos de enriquecedora convivência. No meu mundo de ótimas recordações vivem destacadamente os tios Ruy e Odette.(Anauro Dantas Ribeiro - sobrinho).

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Ruy Antunes Pereira 
 Autoria: Eduardo Henrique Gomes de Carvalho Advogado, Escritor e Senhor do Engenho Pituaçu em Canguaretama/RN 
Ao ser convidado a escrever estas linhas, de pronto veio-me à lembrança, a lindíssima obra literária de sua mãe, Madalena Antunes Pereira - “Oiteiro - Memórias de uma Sinhá-moça”, lida e relida por mim inúmeras vezes. E, naturalmente, aquele mundo quase já extinto, dos antigos engenhos de açúcar, dos quais também descendo, nos colocou próximos, como se fossemos contemporâneos na administração dos nossos engenhos nos vales do Ceará-Mirim e Canguaretama, respectivamente. Também tive oportunidade de conhecer um pouco da essência de Ruy Antunes Pereira através da homenagem amorosa prestada por sua filha, Denise Pereira Gaspar, no livro “Mucuripe - O Mundo Encantado de Ruy Antunes Pereira”, uma verdadeira elegia de amor ao seu pai. Ruy veio de uma família de renomados escritores e poetas que fazem parte da elite cultural do nosso estado, todos representantes do Vale do Ceará-Mirim; sendo sobrinho-neto de Juvenal Antunes de Oliveira, filho de Madalena Antunes Pereira, primo de Nilo Pereira e tio de Lucia Helena Pereira, entre outros. Todos grandes escritores que têm suas obras reconhecidas e calcadas pelo amor ao torrão natal. E Ruy, com certeza, herdou esse talento literário familiar, podendo se comprovar tal fato através das inúmeras cartas, escritas com maestria e o dom da alma, inseridas no seu livro. Um homem que dedicou sua vida à família, aos amigos e ao trabalho. A personificação da sua dedicação ao trabalho se transformou numa verdadeira saga de amor e devoção ao seu engenho Mucuripe. Ele, por conseguinte, personagem extremamente significativo na história da economia açucareira do vale do Ceará-Mirim. Descendente da aristocracia rural que trouxe a opulência, o bom gosto e a cultura ao verde vale do Ceará-Mirim, em seus tempos de belle époque, escolheu o engenho Mucuripe, como seu local predileto e lá trabalhou incansavelmente e com dedicação amorosa até a idade avançada, tendo conquistado o respeito, carinho e reconhecimento de todos que o conheceram e que com ele conviveram. Ele fazia parte de uma classe de senhores rurais que, infelizmente, praticamente se extinguiu. E com ela também se esvaíram os valores do cavalheirismo, da honestidade inquestionável, da valorização do trabalho honesto e dos valores familiares. Por sorte o seu legado foi profícuo. As terras do Mucuripe se mostraram por demais férteis, já que as lições ensinadas por ele foram assimiladas pelos seus descendentes e tudo isso sobrevive, ainda, no cheiro do melado, no apito do engenho, na hospitalidade daquela casa-grande e na continuidade dos valores herdados pelos seus familiares e que, decerto, serão passados adiante. Vida longa a uma estória linda!


O USINEIRO POETA.
 Falar do usineiro Ruy Antunes Pereira precisaria de um prefácio de como cheguei lá. Denise, sem exagero, uma lady, namorava Arnaldo, filho de uma amiga e aparentado do meu Pai, que entre outras afinidades, tinham a satisfação “de gostar de sofrer”, curtindo ambos uma fazenda no semi árido, as duas encangadas no pátio de Santa Cruz do Inharé/RN. A amizade transcendia, levando a que eu, amiga e aparentada de Ana Carmelita Gaspar Gurgel, desfrutasse, nos períodos das férias escolares, de muitos acontecimentos no palacete da Hermes da Fonseca. Entre os desfrutes divertidos e prazerosos era desfilar, a convite de Denise, nas largas avenidas da Vila Natal, no seu belo e raro carro. É saboroso recordar a cidade do sol, nos idos de 1958 a 1960. Também das saídas do “Cine Rio Grande”, quando eu e Ana Carmelita, hoje sua cunhada, éramos convidadas para chás na residência da Lady D. Odete, mãe de Denise e Ruizinho. Uma bela casa situada à rua Jundiaí, na lateral da Catedral nova, àquela época, Praça Pio X. Assim, adentrando com prelúdio diversificado e por demais agradável, participava da forma de vida e dos hábitos do Usineiro Poeta e seus familiares. Em se tratando dos Pereiras do Vale Verde, não podemos fugir dos deleites telúricos diversificadamente culturais deles advindos, onde, se não todos, a maioria recebeu, do arquiteto do Universo, a dádiva, o saber escrever. Como testemunho posso citar: Nilo Pereira, Madalena Antunes, Lúcia Helena Pereira, Denise Pereira Gaspar e o próprio Ruy Antunes Pereira. Fraseando Nilo Pereira “escritor não é aquele que pública livros, é aquele que sabe escrever”. Assertiva do primo motivando o Usineiro Poeta, a deixar registrado a sua vida em livro, ao que ele sempre se negou. Ruy Pereira, um escritor nato, de imensa e poética sensibilidade, cultuava os bons e finos hábitos demonstrando imensa satisfação em receber, o que é uma arte e ele a detinha. E, a complementação acontecia com a parceria da Lady D. Odete que gostava dessas ocasiões, realizadas naquele mundo encantado MUCURIPE, no lindo Vale Verde dos canaviais. Como é belo aquele Vale! O amor e a dedicação aos seus dois filhos demonstrava de todas as formas, através de atos, cartas, cartões, etc... Comportamento que estendeu não só às suas crias, às quais adultas, cada uma com seu próprio núcleo familiar edificado, continuava rotineiramente estendendo o hábito aos quantos lhe eram caros. Para o usineiro poeta, escritor, grande anfitrião, não só o lucro. Sabia, há décadas globalizar a sua forma de viver e amar. Precisamos de pessoas com a visão de Ruy Antunes Pereira - O Usineiro poeta e escritor. Pedro Velho/RN, 23 de Março de 2013. Socorro Umbelino Gomes - Escritora.

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Tive o prazer de conhecer mais de perto, a Sra. Denise Pereira Gaspar, quando organizava o livro do seu pai - RUY PEREIRA - e solicitou-me fotos, tanto no seu apartamento, quanto no Engenho Mucuripe, em Ceará-Mirim/RN. Ali pude compreender a razão do título do livro: "Mucuripe - O Mundo Encantado de Ruy Antunes Pereira". Numa grande extensão de verde, mundo telúrico, ali fazia a sua grande poesia: o engenho com sua engrenagem humana e técnica, os cambiteiros chegando com as canas altaneiras, o bueiro baforando o cheiro do melaço, um mundo mergulhado em história, mel, rapadura, o caldo-de-cana doce, servido com elegância, em copos bonitos, na casa-grande do Engenho. Senti grande emoção, como se houvesse pertencido ao vale verde de tantos escritores. Eu sabia que o senhor Ruy Antunes Pereira herdara a veia epistolar dos seus ancestrais: da sua mãe Madalena Antunes, do tio Juvenal Antunes, do primo Nilo Pereira, e como se achasse pouco, o irmão Vicente, sua filha Denise, a sobrinha - dileta Lúcia Helena Pereira e, creio, de muitos que ainda estão por vir. O senhor Ruy era um homem de todos os tempos e lugares, jamais saindo de Natal para conhecer o estrangeiro, limitando-se às idas e vindas ao Rio de Janeiro. Conhecia o mundo através dos livros, era um leitor fervoroso dos grandes autores brasileiros e estrangeiros. A noite de autógrafos, com minha cobertura fotográfica, de "Mucuripe - O Mundo Encantado de Ruy Antunes Pereira", teve grande repercussão e foi realizada no Salão de Nick Buffet, no clube América, com quase 800 pessoas e a venda de mais de 300 exemplares. Assino, com satisfação, estas palavras sobre um homem que viveu por 92 anos e subiu às dimensões do céu, levando o seu mundo encantado. 
 PAULO OLIVEIRA FOTÓGRAFO E AMIGO DA FAMÍLIA

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