AS CHAMAS ARDIAM SOBRE A GRANDE CHAPA
NO CIMENTO SURRADO
DEIXANDO SILHUETAS DE CINZAS NA PAREDE IMUNDA.
NA PANELA UMA IGUARIA FERVIA
E CIÇA, A COZINHEIRA RESMUNGONA,
COM OLHOS ACATITADOS
E BOLINHAS DE SUOR NO NARIZ,
SÓ REPETIA:
"ISSO É NO QUE DÁ SÊ UMA NEGA POBE
EM RIBA DUM FUGÃO DE MENHÃ A NOITE,
CUZINHANDO PRA UMA RUMA DE BRANCO
HUM! HUM! HUM!
POIS A INSCRAVIDÃO É ESSA"...
ELA RESMUNGAVA E EXPERIMENTAVA A COMIDA
MERGULHANDO A COLHER DE PAU
NA PANELA, COLOCANDO UM POUCO DA IGUARIA
NA PALMA DA MÃO E PASSANDO A LÍNGUA
E ELA MESMA DIZENDO: "JÁ TÁ NO PONTO".
OBSERVAVA ESSA CENA QUASE TODO DIA,
ATÉ QUE TIVE CORAGEM DE PERGUNTAR
À PRETA CIÇA, PORQUE ELA FALAVA SÓ.
A RESPOSTA FOI RÁPIDA: "E QUEM VAI QUERÊ
CUNVERSÁ CUM ESSA NEGA"?
LEMBRO-ME DAQUELE FOGÃO,
DAS COISAS BOAS LÁ COZINHADAS: FEIJÃO,
CARNE TORRADA, COZIDO, FEIJÃO VERDE,
TANTAS COISAS BOAS...A CANJICA BEM AMARELINHA, O BEIJU...COISAS BOAS COMO DOCES MARAVILHOSOS,
OS FILHOSES QUE MAMÃE FAZIA, OS SONHOS...
QUERIA UM FOGÃO À LENHA, COM A NEGA CIÇA COMANDANDO E RESMUNGANDO,
UM FOGÃO ARDENDO EM BRASAS,
PARA O BOM ALIMENTO ME SUSTENTAR
E PROVOCAR ESSE MUNDO DE BOAS RECORDAÇÕES...
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